Material de Construção: Mercado em expansão e com enormes oportunidades – Por Luiz Goes   ...

Material de Construção: Mercado em expansão e com enormes oportunidades – Por Luiz Goes



O setor de materiais de construção no Mundo todo, e inclusive no Brasil, vem experimentando um crescimento excepcional ao longo dos últimos anos, tendo sido, inclusive, beneficiado com a pandemia e suas consequências, que acabaram fazendo com que o espaço construído se tornasse foco de atenção das famílias que passaram a ficar muito mais tempo em seus lares e das empresas que também passaram a ter que ajustar seus espaços em função da nova realidade.

Alguns setores específicos da construção tiveram crescimentos vultuosos. O setor habitacional, que ainda concentra no país um déficit de 5,8 milhões de unidades(1), aliado a políticas de crédito mais favoráveis cresceu significativamente em todas as camadas socioeconômicas atingindo cerca de 12% em 2021 em relação ao ano anterior(1). O mercado de armazéns logísticos, muito por conta da explosão do E-commerce brasileiro que cresceu 31% no primeiro semestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020(1) foi outra área de forte expansão. O mercado de escritórios em São Paulo, por exemplo, foi fortemente impactado em termos de oferta, apresentando uma vacância média de cerca de 23% em novembro de 2021, quando no mesmo mês de 2019 este valor era de 8,9%(3). Por outro lado, as empresas, mesmo reduzindo seus espaços necessários, investiram em reformas de adequação tanto às necessárias posturas sanitárias, quanto à atratividade destes espaços para seus funcionários em eventuais retornos presenciais.

Uma coisa é certa: o mercado de material de construção cresceu muito. Segundo a ANAMACO, Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção em parceria com o IBRE – FGV, o varejo do segmento cresceu 16% no ano passado em relação a 2020.

O PERFIL DO MERCADO

Este crescimento acabou por expor diversas características desta cadeia de consumo, algumas já conhecidas e outras evidenciadas pela situação atípica vivida. A seguir, listamos algumas destas questões:

1.       A indústria, principalmente aquela formada por empresas de grande e de médio porte não tinha fôlego para atender ao mercado e passaram tanto a comprar empresas menores e mais regionalizadas, como também a tirar da gaveta planos de expansão. Por exemplo, a Roca, indústria cerâmica optou por comprar uma fábrica da Eternit em Pernambuco para abrigar mais fornos. Da mesma forma a Dexco, antiga Duratex, que anunciou investimentos de R$ 2,5 bi até 2025 no país.

2.       As indústrias de pequeno e a grande maiorias daquelas de médio porte, em sua expressiva maioria empresas familiares, possuem severos problemas de gestão, seja no equacionamento de sua atuação no mercado, seja no equilíbrio de suas contas ou mesmo na construção de suas regras de governança.

3.       As indústrias viram-se tentadas a se expandir geograficamente e se depararam com a dificuldade em encontrar bons distribuidores e, principalmente representantes comerciais, que pudessem conduzir os processos de venda de seus produtos.

4.       A estrutura logística deficiente no país de forma geral, mostrou-se muito ineficaz para atender o segmento de material de construção, sustando também as intenções de expansão de algumas indústrias.

5.       Os atacadistas viram-se surpreendentemente colocados em uma posição de vantagem para atender, principalmente, o varejo regional, mas também se viram pressionados pela demanda de espaço para abrigar estoques e pela forte ambição, especialmente das grandes indústrias na busca de novos mercados.

6.       Surgem marketplaces dedicados apenas a abastecer varejistas de pequeno porte, os chamados atacadistas digitais, estabelecendo um novo canal entre a indústria e as lojas.

7.       As cadeias de home centers, em sua maioria grupos multinacionais, partiram para a implementação de novos formatos menores e mais adequados ao atendimento regionalizado, seja em bairros das grandes metrópoles, seja em cidades menores.

8.       Estas mesmas cadeias implementaram seus canais digitais e tiveram que amadurecer na marra, acabando por colocar suas lojas digitais entre as top 3, com todo o impacto trazido nos seus sistemas de gestão e na operação logística que isso impõe.

9.       As pequenas lojas individuais e pequenas redes ficaram abarrotadas com estoques maiores e novos produtos e passaram a tentar se ajustar digitalmente, mas boa parte delas sem sucesso.

10.   De forma geral, o e-commerce envolvendo o segmento teve crescimento espantoso. Segundo dados do EBIT / Nielsen, no primeiro semestre de 2021 foi verificado um faturamento do e-commerce na categoria Casa&Decoração 155% maior do que o mesmo período de 2020. Em termos de quantidade de pedidos o crescimento foi de 66%. Para que se possa comparar, o segmento de alimentos que também teve forte impulsionamento, apresentou faturamento 34% maior e 8% no aumento de pedidos.

11.   Os marketplaces, muitos nascidos junto a grandes varejistas e outros chamados pure players de atuação exclusivamente pela Internet também verificaram crescimento assombroso. Blocos de concreto, tintas, cerâmicas, metais e até mesmo areia e cimento passaram a fazer parte das listas de compra.

12.   As indústrias também passaram a incorporar, mas não obrigatoriamente a implantar definitivamente, os seus canais diretos com o consumidor final, o chamado D2C (direct to consumer).

13.   Foram retomadas ações vistas no passado, mais intensamente na primeira década deste século, que se referem à formatação de redes de negócios que agregam pequenos varejistas já em operação e que passam a comprar juntos, bem como, em alguns casos, a operar sob uma mesma bandeira, a ter ações conjuntas de marketing, treinamento e gestão, por exemplo.

Estes são apenas alguns dos movimentos que puderam ser vistos ao longo dos últimos anos, mas mais especificamente ao longo dos últimos dois anos na cadeia de materiais de construção. O varejo do segmento, segundo estimativas da ANAMACO vendeu R$ 155 bi em 2021 e pode vender algo ao redor de R$ 165 bi em 2022. A estes valores devem ser ainda adicionados aqueles que se referem às compras feitas diretamente junto às indústrias pelas médias e grandes construtoras, por instaladoras especializadas, por incorporadoras e gestoras atuantes em diversos segmentos, tais como hotéis, shopping centers, aeroportos etc. e assim por diante.

Toda esta movimentação ainda conta com o agito da Construtechs, as startups ligadas ao setor da construção e que também passam a empreender maior dinamismo seja pela sua atuação seja pela atratividade que exercem aos grandes grupos que veem nelas a oportunidade de edificar seus ecosistemas

Historicamente a cadeia de material de construção no Brasil caminhou sempre com vários anos de atraso em relação, por exemplo, à cadeia de alimentos e isso não se modificou nos dias de hoje. A cadeia como um todo não é madura e apresenta uma série de dificuldades que, em realidade, são oportunidades a serem trabalhadas em diversas direções no âmbito da gestão das empresas que a compõem.

É PRECISO ABANDONAR O AMADORISMO

Ao que tudo indica teremos um ano de 2022 um pouco menos intenso do que o ano anterior em termos de performance financeira, porém longe de qualquer preocupação. O próximo ano, que certamente absorverá os impactos das eleições de Outubro também não sinaliza movimentos de arrefecimento, mas sim de, no mínimo, estabilidade.

É preciso que o setor se conscientize cada vez mais da necessidade de se profissionalizar, de buscar ferramentas mais apropriadas à sua gestão, de assegurar suas transições quando falamos das inúmeras empresas familiares, de equacionar suas questões financeiras, de olhar para o futuro de forma mais estratégica, de ter mais consciência e segurança em seus passos visando o crescimento e assim por diante.

O espaço para o amadorismo é cada vez menor e inversamente proporcional às pressões crescentes do mercado, o que vai exigir cada vez mais atenção dos gestores de empresas do segmento, independentemente de sua localização ao longo da cadeia. Buscar o apoio técnico para se estruturar de forma consistente é fundamental e cada vez mais urgente.

 

(1)    – Ministério do Desenvolvimento Regional      (2)–Webshoppers Ebit – Nielsen

(3)     Valor Investe