Evolução da Governança em Empresa de Controle Familiar - Por Renato Urvaneja e Luís Fernando Almei...
As estatísticas apontam que as empresas familiares representam 85% das empresas do mundo, e no Brasil são responsáveis por 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e empregam em torno de 75% da força de trabalho.
O nascedouro das empresas familiares não muda de forma significativa no seu bojo: uma ideia, uma necessidade, uma habilidade, uma visão de futuro, empreendedorismo. A resiliência é a característica intrínseca dos negócios familiares. A união da família é indispensável para o fortalecimento dos negócios através dos tempos. Na realidade, na maioria das vezes, as questões familiares e as questões empresariais se sobrepõe, servindo de tema central nos almoços dominicais.
A figura de comando é centrada no fundador, ou fundadores, podendo ser irmãos ou primos, passando a ser uma empresa multifamiliar, com o poder de fundamentalmente tomar decisões que influenciam o negócio em todos os seus aspectos. Propósitos, valores, educação e amor pelo trabalho são os legados que o fundador / fundadores transmitem para a próxima geração.
O crescimento dos negócios e desafios das empresas familiares são, em muitos aspectos, os mesmos enfrentados por qualquer tipo de empresa. Talvez, nem sempre de forma estruturada, o crescimento passa por um processo de estratégia e gestão muitas vezes ligado ao feeling do fundador. Uma grande diferença nesse último tema, é que os cargos de gestão nas empresas familiares são exercidos por membros da família (ou por pessoas próximas a ela), e não necessariamente são os profissionais mais talentosos para a determinada posição.
A visão de resultado vai além dos tradicionais mensais e anuais, ou seja, o pensamento é de longo-prazo, e esse potencial de planejar e investir no prazo mais longo promove estabilidade, e, em muitos aspectos, possibilita enfrentar com maior sensatez as crises cíclicas da economia.
Os negócios evoluem, e as famílias também, e o processo de transição para uma segunda geração se apresenta de forma inevitável. A prática ideal, fortemente defendida por diversas literaturas sobre o tema, é que esse processo sucessório seja feito com segurança, em um momento em que a empresa esteja forte. A sucessão é uma jornada, e não um evento, e deve-se preparar a próxima geração para liderar desde sempre, e não somente quando o fundador estiver pronto para deixar o seu posto.
O passo inicial para administrar essa questão é estabelecer regras claras para o ingresso na empresa familiar. Alguns exemplos aplicados são: não criar vagas para abrigar pessoas da família; exigir treinamento técnico formal para a vaga atribuída; experiência prévia em outras empresas.
Um outro ponto a atentar é que a entrada de uma nova geração altera de forma sensível a ordem natural de poder que mistura em ser o patriarca da família e o de fundador-dono do negócio. Essa quebra de “hierarquia”, muitas vezes pode levar a um choque emocional e de conflito. Diversos estudos apontam que o comportamento socioemocional é o guia mestre da tomada de decisão nesses momentos. Não considerar esse componente humano relevante pode colocar em risco a harmonia familiar, com impacto negativo sobre todo o processo sucessório.
Por isso que a antecipação do plano e o gerenciamento do rito da sucessão são tópicos vitais para o contínuo sucesso da família empresária. A transparência, harmonia e respeito são essenciais para garantir o espírito e o engajamento das futuras gerações no negócio.
O avanço dos negócios e a entrada de uma nova geração / gerações traz um outro importante aspecto da empresa familiar: no seu nascedouro o binômio família-empresa se funde em uma única entidade. Todavia, com o passar do tempo uma segregação abrangendo três dimensões Família-Propriedade-Empresa torna vital para a longevidade do negócio.
Cada uma dessas dimensões tem suas próprias regras de Governança, com direitos e obrigações distintas, e planejar a sucessão levando em conta essas dimensões ajuda a segregar e equilibrar os interesses dos envolvidos. A principal função da Governança é garantir a perpetuação do legado do acionista de referência. Sempre com visão holística de longo prazo e zelando pela cultura empresarial
De forma suscinta, a Família tem sua governança gerida pelo Protocolo Familiar, a Propriedade pelo Acordo de Acionistas, e a Empresa pelo Estatuto Empresarial ou Contrato Social.
Todavia, mesmo que independentes, é fundamental ter em mente que em muitos momentos essas dimensões se entrelaçam, e a sustentabilidade de todo o sistema leva ao sucesso dos negócios.
O Protocolo Familiar diz respeito apenas à família empresária, as relações interpessoais, atual e futura, com o negócio. Funciona como uma régua balizadora. É nele que se discute, se desenvolve e se aplica os valores familiares, alinhamento de propósitos, princípios e crenças, e auxilia na mitigação ou eliminação de conflitos de interesses individuais entre os seus membros. É através do Protocolo Familiar que se impulsiona as novas gerações para novas conquistas, olhando o passado com orgulho e o futuro com confiança.
O Acordo de Acionista delimita a participação acionária na empresa, regras de transferência, relacionamento entre os sócios. A falta deste pode boicotar o sucesso do negócios em um momento de transição de gerações.
O Estatuto Empresarial / Contrato Social descreve os objetivos da empresa, e é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, norteando o Conselho de Administração, a Diretoria e órgãos de controle.
Ter uma governança madura nas três dimensões, com a união familiar, acionistas alinhados, um conselho de administração proativo e com bons líderes nos negócios, é fundamental para a longevidade e sucesso da empresa. E é essencial aprender a tratar os assuntos nos seus respectivos fóruns. A implementação de um processo de Governança na família empresária é um momento em que a família se vê frente a frente com suas dualidades, lidando, por um lado com os aspectos financeiros e estruturas legais da empresa, e por outro lado com os fatores emocionais e cultura familiar.
Procurando colaborar neste processo, a WAVE abriga executivos sêniores com experiências reais podendo colaborar e recomendar de forma prática e isenta com a família empresária que deseje evoluir na sua estrutura de Governança.