Mulheres que Equilibram Pratos – Por Karina Zanetti von Staa e Rossana Sadir Se você se identifica...

Mulheres que Equilibram Pratos – Por Karina Zanetti von Staa e Rossana Sadir

Se você se identifica com essa frase, parabéns! Você é absolutamente normal. Esta afirmação não pretende levantar nenhuma bandeira ou menosprezar homens, apenas trazer aquele conforto solidário para mulheres que exercem múltiplos e intermináveis papeis.

Pouco importa se você é profissional contratada, autônoma, ou responsável pela sua casa e família. Há sempre uma avalanche de atividades a serem feitas, dia após dia. Também não faz diferença se você é solteira ou casada, se tem sua própria família ou ainda pertence à de seus pais. Nossa versatilidade genética acaba nos impulsionando a assumir muitas responsabilidades que, muitas vezes, não são nossas.

Não devemos nos enganar. Somos as responsáveis pela sobrecarga, quer por culpa, medo, insegurança, ego ou senso de responsabilidade.

Se você não tem uma profissão regular, será a primeira a ser lembrada em qualquer necessidade, até mesmo aquelas que as próprias pessoas, homens, mulheres, crianças ou jovens, podem fazer por si só. Qualquer que seja a razão, muitas vezes acabamos cedendo.

Ao lerem isso, homens e mulheres podem pensar que há situações muito privilegiadas em que a carga é menor. É verdade, mas não na plenitude. Uma vida financeiramente simples, pode ser mais leve também, quando nos contentamos com o que é essencial.

Mais recursos, significam mais opções, oportunidades, complexidade e atividades demandadas. Ainda que exista a divisão de tarefas com ajudantes, cônjuges, filhos e irmãos, é para as mulheres da casa que ficam muitas decisões, providências e apertos.

Socialmente somos vistas como aquelas que precisam dar conta do recado, para além da atuação profissional e familiar primária. Somos solicitadas e solicitamos. Somos cobradas e cobramos de nós mesmas e de outras mulheres. Dessa forma alimentamos nosso malabarismo com mais pratos no ar, girando cada vez mais rápido. Ao entrarmos na ciranda da autocobrança e determinação, muitas vezes não conseguimos parar, porque tememos derrubar e quebrar alguns pratos.

E daí? Compram-se outros!

Enfrentar a própria limitação, parece humilhante, mas é um ato libertador de humildade, principalmente quando assumimos para nós mesmas que está demais. O próximo passo é adotar a postura a quem eventualmente nos cobra, que a carga é muita e deveria ser repartida entre todos.

Para além da logística pessoal e familiar, vem também a profissional. Com ou sem chefe, colaborador, sócio, colega, com o mesmo empenho que procuramos dar conta da vida pessoal, nos dedicamos à nossa profissão, seja pela absoluta necessidade de sustento, ou pela nossa realização como pessoa produtiva e capaz. É mais um prato bem pesado e precioso a girar.

Ainda que muitas vezes você divida as contas, sente que deve estar plena e disposta para todas as demais atividades que arrumou em sua vida. Se por acaso as coisas estiverem pesadas em casa, não poderá sequer comentar no seu trabalho, sob risco de ser vista como não profissional.

Segundo uma pesquisa da Bain & Co (“Sem atalhos - O caminho das mulheres para alcançarem o topo”), enquanto as mulheres ocupam um equilibrado patamar de cerca de 43% do quadro de funcionários em empresas no nível operacional e administrativo, ocupam 35% dos cargos de média gerência, apenas 16% da gerência sênior e míseros 8% em comitês executivos no Brasil.

A mesma pesquisa identifica que as principais razões podem ser divididas em quatro grandes grupos:

As mulheres se acostumam a permanecer em uma zona de conforto;

Mulheres se sentem culpadas por tentarem equilibrar a vida pessoal com a profissional, ou seja, ao tentar manter os múltiplos pratos girando;

Mulheres sofrem preconceitos atrelados aos vieses inconscientes da cultura corporativa, que mistura questões de estilo e capacitação;

Ou ainda pior, por insegurança ao se subestimarem como profissionais de qualidade frente aos homens, a famosa “síndrome da impostora”. De forma resumida, a síndrome do impostor é o nome atribuído a um sentimento de que você não é bem sucedida porque o merece e que, em algum momento, todos irão descobrir que você não passa de uma fraude.

É fato que mulheres em mesmo cargo e função em geral ganham menos, que ocorrem assédios sexuais e morais, que muitas são demitidas ao retornarem de licença maternidade e tantas outras coisas já exaustivamente conhecidas. Entretanto, se refletirmos bem, nós mesmas travamos nossas próprias guerras internas antes que envolvam outras pessoas.

Se olharmos racionalmente para as quatro principais razões da não ascensão profissional de mulheres, que realmente não é imperativa para nossa felicidade e realização, veremos que apenas uma vem dos outros. As demais dizem respeito a como nos vemos ou nos sentimos em relação aos nossos papéis assumidos, os tais pratos que queremos girar com maestria.

Cada um tem sua escala de valores, necessidades, preferências e estilo de vida. Não há receita de como equilibrar todos os pratos, ou simplesmente, ser feliz. É crucial, porém, que assumamos o protagonismo de nossa vida e deixemos de nos colocar sempre em último lugar. Essa postura pode ser poética, mas gera dor em nós e em quem nos rodeia.

Através de minha experiência e de mulheres que considero bem-sucedidas em suas vidas, incluindo ou não uma carreira, considero algumas sugestões muito importantes para facilitar o equilíbrio de pratos com o único objetivo de felicidade e realização. Entretanto, adotar uma nova postura dá trabalho e pode gerar de início alguns descontentamentos nos que nos rodeiam.

Se você quer realmente dominar a sua vida, pense se não vale apenas adotar as seguintes atitudes:

Reflita sobre o que é importante e o que é de fato urgente;

Liste tudo que é imprescindível, desejável e dispensável, para então simplificar e diminuir a quantidade de pratos;

Delegue e peça ajuda esclarecendo que há coisas importantes ou urgentes que alguém precisa fazer, não necessariamente sempre você;

Deixe claro aos diretamente envolvidos o que espera de sua vida pessoal e profissional;

Aprenda a dizer não em todos os âmbitos, pessoais e profissionais;

Ouse avaliar se os pratos que colocou para girar de fato valem o esforço. Dá para diminuir a velocidade, a quantidade, ou mesmo trocá-los, ainda que dê trabalho. Não há mudança sem caos;

Dedique-se muito a tudo que combina com seus valores e necessidades, mas aceite que muitas vezes você falhará ou colocarão pedras em seu caminho. Assim é o ser humano;

E finalmente, viva com intensidade e qualidade para que no final da jornada tenha valido a pena exclusivamente para você.